domingo, 24 de outubro de 2010

A minha versão dos fatos

Clouzot era aquele tipo de funcionário público que, além de distraído, era meio azarado. Certa vez, conseguira enganchar o cinto na toalha de mesa, arrastando-a, depois de acabar com a louça do café da manhã, até o trabalho. Num domingo, numa barraquinha de tiro ao alvo numa feira, atirou no próprio atendente, que ficou de olho roxo por uma semana. A sorte é que a bala era de rolha. Nos últimos dias até que andava calmo; além de ter alagado o escritório com a água do filtro, esquecera-se de fechar a torneirinha, rasgara a saia da secretária executiva que tivera a péssima idéia de passar por sua mesa, embora quanto a isto ele não tenha tido culpa, já que o rasgão deveu-se a um prego, sabe-se lá como, provocara um curto circuito no sistema do ar condicionado, deixando todos entregues a um calor de 40 graus na zona norte do Rio, sem telefone nem internet.
Esperando que os técnicos dessem um jeito naquela confusão absurda, inventou de dar uma limpada na gaveta da escrivaninha. Saiu pegando papéis e documentos que não faziam mais sentido, amassando-os e jogando-os no lixo que ficava a uma certa distância. Com um pouco mais de força, um deles acabou voando pela janela. E a ele, minutos depois, seguiu-se um rolo já usado de fita crepe.

No dia seguinte, seu sobrinho curitibano, que todos achavam a cara do tio, apostando com os amigos sobre quem conseguia lançar bexiguinhas mais longe, acabou sem querer acertando uma aglomeração.

O resto é história.

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